terça-feira, 9 de outubro de 2018

As baterias de zinco-ar poderão virar o jogo


De seis anos para cá, 110 aldeias da África e Ásia receberam energia elétrica de painéis solares e de baterias que usam zinco e oxigênio. As baterias são a base de um sistema de armazenamento de energia criado pela NantEnergy, companhia de Patrick Soon-Shiong, empreendedor da área de biotecnologia e cirurgião originário da África do Sul.
Segundo os cientistas da NantEnergy, as baterias são recarregáveis e contribuem para baixar o custo do armazenamento de energia para US$ 100 o quilowatt-hora. Tal cifra é considerada essencial para a criação de uma grade elétrica isenta de carbono que opera quando o sol se põe e o vento amaina. As baterias de zinco-ar são uma das várias alternativas em potencial às íon de lítio, que até agora foram as mais utilizadas para o armazenamento de energia em larga escala e para veículos elétricos.
Quais são as fontes comerciais do zinco?
O dr. Soon-Shiong, cuja companhia adquire zinco da Indonésia, falou da abundância do mineral. Austrália e China têm cerca da metade das reservas mundiais e estão entre os maiores produtores.
Os Estados Unidos têm aproximadamente 5% das reservas mundiais de zinco, e se encarregam de 7% da produção, disse Sri R. Narayan, professor de Química da University of Southern Califórnia.
Segundo ele, as reservas de lítio, um elemento fundamental das baterias de íon de lítio, correspondem a um vigésimo das de zinco, mas acrescentou uma nota de cautela. “Dado o atual volume de produção do zinco, as reservas deste mineral durarão cerca de 25 anos”, afirmou. “Portanto, considerando as reservas disponíveis, não sabemos se teremos zinco suficiente para fazer frente à enorme necessidade que resultará da demanda de baterias em escala de grade”.
O lítio é caro, em parte porque é raro. Além disso, sua mineração também ameaçava a saúde e a segurança dos trabalhadores nas áreas onde era encontrado em abundância, como na República Democrática do Congo. A exposição prolongada ao mineral estava associada à formação de fluido nos pulmões. E as baterias de íon de lítio podem ainda apresentar risco de incêndio.
As baterias de zinco-ar não contêm compostos tóxicos, não são inflamáveis e podem ser descartadas sem riscos, segundo a “MIT Technology Review”. No entanto, a mineração e processamento do zinco apresentam problemas. Isto decorre de um minério que consiste de sulfeto de zinco, produzido, em geral, juntamente com chumbo, cádmio e níquel, disse Narayan. A produção pode aumentar os problemas ambientais gerados pela emissão de vapor de cádmio e dióxido de enxofre.
Quanto custa o armazenamento da energia com as baterias de zinco-ar?
A NantEnergy informou que, a US$ 100 o quilowatt-hora, o custo das baterias de zinco-ar se compara favoravelmente ao das de íon de lítio, que podem  custar US$ 250 o quilowatt-hora, mas, em geral, custam de US$ 300 a US$ 400, segundo Yogi Goswami, diretor do Clean Energy Center da University of South Florida.
Mesmo a US$ 100 o quilowatt-hora, o armazenamento de energia continua sendo um gasto significativo para a indústria, embora as baterias tenham registrado uma baixa rápida do preço e devam tornar-se comuns, como os painéis solares residenciais, dentro de alguns anos.
As baterias de zinco-ar passarão a ser disponíveis para serem usadas nas residências ou em celulares?
A NantEnergy afirmou que está interessada em pôr no mercado o seu produto para microgrades – matrizes de painéis solares autossuficientes para atender a áreas pequenas – e não em instalações industriais ou consumidores residenciais. Entretanto, a companhia prevê o fornecimento de baterias para uso doméstico.
A NantEnergy pretende acrescentar sistemas de transporte como automóveis elétricos, ônibus, trens e scooters à próxima versão da bateria. E além disso?
“Temos um primeiro protótipo de um rádio móvel”, disse o dr. Soon Shiong. “A densidade da energia da nossa bateria torna isto realmente possível”.
“É enorme”, acrescentou, “mas provavelmente a nossa meta será 2020”.

Fonte: Estadão

terça-feira, 4 de setembro de 2018

ONU iniciará negociações para um tratado que proteja o alto-mar



Os Estados-membros da ONU iniciarão nesta terça-feira (4) a preparação para 2020 de um tratado sobre o alto-mar, que representa quase a metade da superfície do planeta, mas que carece de uma proteção ambiental adequada. As conversas acontecerão durante quatro sessões, cada uma de duas semanas de duração, ao longo dos próximos dois anos, visando proteger a biodiversidade marinha e para evitar que os oceanos se degradem ainda mais.
“As negociações serão sobre os espaços que estão além das jurisdições nacionais ou áreas que não pertencem a nenhum país em particular”, explicou Julien Rochette, do Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e de Relações Internacionais (Iddri, com sede em Paris). A agenda se centrará “no alto-mar e na zona internacional de águas marinhas, ou seja, de cerca de 46% da superfície do planeta”, acrescentou.
Em 1982, a ONU adotou uma convenção sobre o direito ao mar, mas deixou o alto-mar sem regulação. “Todos os Estados exercem as suas liberdades tradicionais de navegação, sobrevoos, pesquisa científica e pesca em alto-mar”, assinala o texto. O documento entrou em vigor em 1994, sem a participação dos Estados Unidos.
Desde então, o transporte marítimo se expandiu consideravelmente e os recursos no oceano profundo despertaram grandes interesses, seja para a pesca ou para a extração mineradora. ”A vida marinha já está desequilibrada pelo impacto da pesca industrial, a mudança climática e outras indústrias extrativistas. Temos uma responsabilidade compartilhada para proteger os nossos oceanos antes que seja tarde demais”, declarou Sandra Schoettner, da organização Greenpeace.
O futuro tratado deve, principalmente, criar áreas protegidas em alto-mar, favorecer a distribuição dos recursos marítimos genéricos e os estudos de impacto ambiental, assim como reforçar as capacidades e a transferência de tecnologias. Espera-se que alguns países que praticam a caça de baleias, como Japão, Islândia e Noruega, sejam mais prudentes sobre o tratado por temerem que estabeleçam estritas restrições à pesca, indicou Rochette.
Os Estados Unidos também são reticente ao tratado “porque se opõem a todo tipo de regulação dos recursos marinhos genéticos e não ratificaram a convenção da ONU sobre o direito ao mar. A Rússia também esteve arrastando os pés por longo tempo”, detalhou o especialista do Iddri. A especialista em oceanos Liz Karan, da ONG Pew Charitable Trusts (com sede nos EUA), as negociações representam um “ponto decisivo”. “Agora entendemos muito mais sobre a interdependência do mundo dos oceanos com a saúde do planeta”.
Para Schoettner, “a vida de nossos mares depende do resultado dos próximos dois anos de negociações, desde o menor plâncton aos golinhos, às tartarugas e às grandes baleias”. ”Um tratado mundial forte permitirá que criemos uma rede de santuários oceânicos para proteger a fauna, garantir a segurança alimentar de bilhões de pessoas e ajudar a lutar contra a mudança climática”, acrescentou.

Fonte: JB

O que a ciência perde com a tragédia no Museu Nacional



 A instituição bicentenária contava com coleções de diferentes domínios do conhecimento, como arqueologia, antropologia, zoologia, botânica, geologia e paleontologia. Estudiosos ouvidos pela reportagem concordam que os danos são irreparáveis para o conhecimento da história e da cultura não apenas do Brasil, mas da humanidade.
A professora do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da UFRGS Marina Bento Soares viajou ao Rio para acompanhar o caso.
— O clima está muito triste — relata. — Os funcionários, professores, técnicos, enfim, todos que chegam aqui estão chorando, abraçando-se desolados. A gente olha para a frente do Museu e vê uma carcaça. São paredes ocas, nada mais.
Marina, que é mulher do diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, nota que o prédio necessitava de reforma há muito tempo, mas apenas recentemente havia obtido investimento de R$ 21,7 milhões do BNDES. A verba, lembra a professora, seria direcionada justamente para reforma na parte elétrica, de manutenção e prevenção a incêndio. Para ela, a tragédia foi reflexo de décadas de descaso de diferentes governos. Alimenta, no entanto, a expectativa de que algumas coleções tenham permanecido intactas:
— Tem-se a esperança de que alguns setores não tenham sido tão atingidos, como algumas coleções que estavam naqueles armários de aço, que são bem resistentes. Mas ninguém sabe ainda. Não se tem a dimensão. Vai começar um trabalho com o Corpo de Bombeiros de entrar lá e mexer nos escombros para tentar resgatar o que sobrou.
Com a repercussão, o Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus (ICOM) recebeu manifestações de solidariedade de diferentes partes do mundo. A presidente do ICOM Brasil, Renata Motta, observa que uma pauta como a da preservação da memória e do patrimônio pode parecer “distante” diante das urgências da sociedade brasileira nesse momento de crise política e institucional, mas que esta tragédia pode ajudar a entender melhor as escolhas que estão sendo feitas:
— O montante para a preservação dos nossos acervos é proporcionalmente menor do que investimentos em outras áreas. Portanto, se for planejado, podemos investir de forma efetiva para que novas tragédias não ocorram.
Renata acrescenta que o Museu Nacional não apenas tem 200 anos de história como exibe características “muito específicas”, por abrigar acervos de diferentes naturezas:
— De fato, é uma perda que ainda não conseguimos mensurar.
O doutor em História da Arte José Francisco Alves, membro do ICOM e ex-curador-chefe do Margs, conta que encontrou o Museu em situação precária já em 2009, quando o visitou:
— Lembro de um sarcófago egípcio de pedra, todo pintado, que estava pegando sol. As janelas estavam abertas, e o ar do Rio entrava na sala. Fiquei horrorizado, é algo impensável, sem o mínimo de climatização na sala.
Alves define o acervo do Museu como “eclético”, envolvendo ciência, cultura e arte:
— É uma catástrofe cultural, mas também arquitetônica, pois não podemos esquecer a importância do prédio em si. Se for reconstruído, não será uma restauração, mas quase uma reciclagem.
Curador da exposição Etnos — Faces da Diversidade, com máscaras de diferentes culturas e regiões, em cartaz no Santander Cultural, em Porto Alegre, Marcello Dantas lembra que algumas coleções jamais serão recuperadas:
— Múmias egípcias e máscaras africanas até temos em outras partes do mundo, mas as coleções de etnologia e arqueologia do Museu Nacional eram únicas. Aquele acervo pré-colombiano, indígena brasileiro e arqueológico das Américas não existe em lugar algum. E isso não tem como repor.
Para Dantas, o vínculo com a matriz brasileira perdido na tragédia é “gigante”:
— Não estou falando de 500 anos, mas de 5 mil anos de histórias profundas sobre o que é viver dentro desse contexto que é o Brasil. As pesquisas feitas ali dentro eram excepcionais, de primeira qualidade e de referência mundial. É uma perda absurda para a humanidade.

Fonte: GauchaZH

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Propostas para minerar o fundo do oceano podem causar danos irreversíveis aos ecossistemas do fundo do mar



Um novo estudo analisa os possíveis impactos danosos dos atuais planos globais de mineração do fundo do oceano, incluindo a destruição física de ecossistemas de águas profundas por operações de mineração. Os oceanos cobrem 71% da superfície da Terra, dos quais 90% são considerados mares profundos. Apesar dessa vastidão, os mares e oceanos são os ambientes menos explorados da Terra; apenas cerca de 0,0001 por cento do fundo do mar foi investigado.
Avanços na tecnologia tornaram possível explorar alguns dos confins mais profundos dos oceanos, o que levou à descoberta de espécies antes desconhecidas e que foram consideradas extintas. No entanto, esses avanços tecnológicos também tornaram a exploração comercial de recursos do fundo do oceano uma possibilidade real.
Pesquisadores da Universidade de Exeter e do Greenpeace disseram que, apesar do conhecimento relativamente pobre sobre ambientes de águas profundas, esses habitats tendem a ser sensíveis a distúrbios mediados por humanos e podem levar muito tempo para se recuperar – possivelmente décadas, séculos ou até milênios, se eles podem se recuperar de todo.

“À medida que aprendemos mais sobre os ecossistemas do mar profundo e o papel dos oceanos na mitigação da mudança climática, parece prudente tomar precauções para evitar danos que poderiam ter consequências duradouras e imprevisíveis”, disse o Dr. David Santillo, biólogo marinho e veterano.

A mineração do leito marinho envolve principalmente a extração mineral em vastas áreas do leito oceânico, potencialmente deixando uma grande “pegada” nos ecossistemas do fundo do mar dentro e ao redor dos depósitos minerais.
A Autoridade Internacional do Leito Marinho (ISA) regula as atividades humanas no fundo do mar além da plataforma continental. A ISA emitiu vários contratos para exploração mineral e continua a desenvolver regras para mineração comercial. No momento em que este documento foi escrito, a ISA está em processo de desenvolver uma estrutura regulatória para o gerenciamento da mineração tanto na área do leito marinho quanto na coluna de água do alto mar acima (a Área). O quadro jurídico da área é fornecido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS).
Há uma demanda crescente por recursos como minerais e metais, inclusive para uso no desenvolvimento de novas tecnologias, o que despertou um interesse renovado na mineração do fundo do mar. De fato, algumas operações já estão ocorrendo, geralmente em profundidades relativamente rasas perto do litoral nacional.
Há muitas considerações sobre a mineração do leito marinho, tais como questões legais, previsão da escala e extensão do impacto, bem como monitoramento e regulação da atividade de mineração, uma vez que ocorre. Portanto, os pesquisadores propuseram alternativas para a mineração do leito marinho, incluindo a substituição de metais escassos por minerais que possuam propriedades semelhantes. Além disso, eles estão procurando componentes de reciclagem mais eficazes de produtos e resíduos inutilizados.
No entanto, o Dr. Santillo acredita que cortar a superprodução e o consumo exagerado de bens de consumo pode ser a solução definitiva para finalmente diminuir a demanda pela mineração do leito marinho.
“Em vez de usar o engenho humano para inventar mais e mais produtos de consumo que realmente não precisamos, podemos implantá-lo para construir bens que durem mais, sejam mais fáceis de reparar e façam melhor uso dos limitados recursos naturais que temos” ele disse. “Enquanto os governos se preparam para estabelecer as regras e as primeiras empresas se preparam para as minas, agora é a hora de perguntar se temos apenas que aceitar a mineração do leito marítimo ou decidir que o dano potencial é tão grande que realmente precisamos encontrar alternativas menos destrutivas”.
Efeitos da destruição do habitat marinho
A perda e destruição de habitats marinhos devido a perturbações provocadas pelo homem terão efeitos duradouros no ambiente e nas inúmeras espécies que dependem destes ecossistemas. Algumas das principais consequências da destruição do habitat marinho incluem:
Baixa concentração de oxigênio – A contaminação do ar e da água devido à poluição pode diminuir a concentração de oxigênio na água, na medida em que mal consegue suportar a vida aquática.
Migração de animais marinhos – Os animais serão forçados a encontrar novas casas quando o seu habitat já não puder suportar a vida. Outros ecossistemas existentes estarão repletos de animais migratórios, e as espécies residentes terão mais competição por áreas de alimentação e reprodução.
Redução de alimentos – Os seres humanos dependem dos ecossistemas marinhos para a alimentação, e os recursos marinhos esgotados podem levar à redução da oferta de alimentos.
Extinção – A maior consequência das condições ecológicas extremas é a morte de espécies animais e vegetais.


A última década viu um crescente interesse em obter recursos do fundo do mar, e com isso vem uma iniciativa crescente para pesquisar, monitorar e entender os ecossistemas do fundo do mar.

Fonte: Meio Ambiente Rio

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Os desafios da indústria mineral



Comunicar-se com a sociedade, ser ambientalmente sustentável e atender às expectativas das comunidades onde atua. Estes foram os temas de destaque no evento “Desafios da Industria Mineral Brasileira”, realizado pelo Ibram em parceria com a Fundação FHC, em São Paulo, no dia 15 de agosto e que reuniu dirigentes de empresas mineradoras, do governo e de entidades do setor.
Na sessão de abertura, Walter Alvarenga, presidente do Ibram, disse que a indústria mineral no Brasil hoje enfrenta como principais problemas a elevada carga tributária, a lentidão no licenciamento ambiental, a deficiência da infraestrutura e a insegurança jurídica. E que para o setor evoluir, no País, esses problemas precisam ser resolvidos.
O primeiro painel, com o tema “Desenvolvimento Econômico Territorial”, teve a participação de Tito Martins (diretor-presidente da Nexa Resources), Roberto Castello Branco (diretor do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico da FGV), Jakeline Pereira (pesquisadora do Imazon) e Vicente Lôbo (secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do MME). Para Martins, se as mineradoras não adotarem como padrão o compromisso social, ambiental e contribuírem para o desenvolvimento regional, ficarão inviáveis. Castello Branco, depois de apontar a baixa capacidade do Brasil de atrair investimentos em exploração mineral, perdendo para outros países da América Latina, criticou as recentes alterações na CFEM e propôs a adoção do modelo australiano ou canadense, de cobrar os royalties das mineradoras com base no lucro e não na receita bruta. Vicente Lôbo disse que as recentes mudanças na legislação mineral, principalmente a parte que prevê o fechamento de minas, contribui para maior compromisso ambiental da atividade. E lembrou que o Brasil ainda tem um grande potencial de desenvolvimento da mineração, já que apenas 0,48% da área do seu território está onerada por concessões de lavra. E Jakeline Pereira citou o programa Territórios Sustentáveis, conduzido pela Mineração Rio do Norte, como um modelo de cooperação entre a mineração e as comunidades.
No segundo painel, “Questões Socioambientais”, falaram Otávio Cavalheira (diretor-presidente da Alcoa World Alumina Brasil), Luiz Eduardo Osório (diretor-executivo de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Vale e presidente do conselho do Ibram), Roberto Waack (diretor-presidente da Fundação Renova) e Isabella Teixeira (ex-ministra do Meio Ambiente e atualmente co-chair do International Resource Panel, da ONU). Otávio Cavalheira destacou o projeto de recuperação de áreas mineradas utilizando tecnologia de nucleação (o que acelera a recuperação) e o programa de relacionamento com a comunidade de Juruti, no Pará, onde a mineradora tem o seu principal projeto de produção de bauxita.
Roberto Waack falou sobre os programas de remediação que estão sendo implementados pela Fundação Renova nas áreas afetadas pelo acidente da barragem de Fundão, mencionando que já foram gastos, nesses programas, R$ 4 bilhões. Luiz Osório disse que não dá para falar de mineração sem considerar o legado deixado na região onde a atividade é exercida.
E informou que a Vale acabou de aprovar um plano para mitigar o problema da poluição atmosférica em Tubarão (ES), no qual deve investir mais de R$ 1 bilhão. Isabella Teixeira, por sua vez, lembrou os danos causados pela mineração ilegal, informando que há mais de 3 mil garimpos nessa condição no estado do Pará. E lembrou que há passivos deixados pela atividade de mineração para os quais o poder público deve atentar.
O último painel, coordenado por Ruben Fernandes (presidente da Anglo American Brasil), abordou o tema “Competitividade do Setor Mineral Brasileiro” e reuniu João Fernando Gomes de Oliveira (diretor-presidente da Embrapii), Juarez Saliba (diretor de Estratégia, Exploração, Novos Negócios e Tecnologia da Vale) e Júlio César Maciel Raimundo (superintendente da área de Indústria e Serviços do BNDES).
João Fernando disse que a demanda por bens minerais para atender à indústria automotiva, com o crescimento exponencial dos carros elétricos, será um desafio, já que alguns materiais estão se exaurindo na natureza. Juarez Saliba criticou, de forma contundente, a lei sobre cavidades, que em sua opinião “vai matar a mineração no Brasil”, se não for mudada, e informou que a Vale está trabalhando fortemente em inovação tecnológica, mencionando que até o final do ano a empresa deve ser bem sucedida no desenvolvimento de uma rota pioneira para produção de metálicos.
Disse, também, que a companhia vai ter o mínimo possível de geração de rejeitos para disposição em barragens, no futuro próximo. Já Júlio Raimundo afirmou que o Brasil precisa urgentemente mudar o percentual de recursos financeiros que é destinado a investimentos em exploração mineral.

Fonte: Brasil Mineral

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Plano de Trump derruba controles sobre poluição derivada do carvão



O governo dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira, 21, um plano que diminuirá drasticamente o controle sobre a poluição causada pelas usinas termoelétricas movidas a carvão e transferirá a maior parte da regulação do setor para os Estados.
A proposta de “Energia Limpa Acessível” (ACE, em inglês) apresentada pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA substitui as mudanças radicais no mix de eletricidade do país propostas por seu antecessor, Barack Obama, por restrições modestas nas emissões e em usinas específicas.
O projeto também define as diretrizes de poluição com base em suposições sobre quais melhorias poderiam ser obtidas através de atualizações na eficiência das instalações, e dá aos Estados a liberdade de criar seus próprios planos para reduzir as emissões de dióxido de carbono.
Andrew Wheeler, administrador em exercício da EPA, afirmou que a proposta “restaura o estado de direito e capacita os Estados a reduzir as emissões de gases de efeito estufa” ao mesmo tempo em que fornecerá “energia moderna, confiável e acessível para todos os americanos”.
“A proposta de hoje fornece aos Estados e à comunidade regulada a certeza de que eles precisam para continuar o progresso ambiental enquanto cumprem a meta do presidente Trump de domínio energético”, disse Wheeler, em comunicado.
A medida é mais uma das ações tomadas por Trump para cumprir as promessas de campanha de revitalizar a indústria do carvão e restaurar os empregos na mineração. Embora seja improvável que altere drasticamente o mix de energia dos EUA – ou dê um grande impulso à demanda interna de carvão – os defensores do setor elogiaram o esforço para “limitar a influência do governo federal e nivelar o campo de jogo”.
“A política apresentada pelo governo anterior foi uma tentativa ilegal de impor uma agenda política ao sistema de energia do país”, disse Hal Quinn, presidente da Associação Nacional de Mineração. “A nova regra respeita a infraestrutura e as realidades econômicas que são únicas para cada Estado, permitindo soluções direcionadas, ao invés de impor algo de cima para baixo.”
Trump deve participar de eventos de campanha para a eleição legislativa de meio de mandato nesta terça-feira na Virgínia Ocidental, segundo maior Estado produtor de carvão nos EUA, onde em 2016 ele se comprometeu a “abrir as minas”.
Defensores do meio ambiente e pessoas envolvidas na formulação do ambicioso plano de Obama para popularizar o uso de energia limpa nos EUA criticaram a projeto do novo governo, considerado uma forma de favorecimento político e disseram que representa uma retirada dos EUA da luta global contra as mudanças climáticas.
“A EPA de Trump está abandonando qualquer tentativa de reduzir a poluição por carbono que está causando as danosas mudanças climáticas”, disse Lissa Lynch, advogada do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. “Esta proposta viola a lei e joga no lixo os livros de ciências e economia, para apoiar usinas a carvão que não podem competir com as de energia mais limpa.”
Depois de um período em que receberá comentários externos sobre a proposta, o governo Trump esperar concluir o novo plano para usinas termoelétricas a carvão em 2019. Os críticos da iniciativa, no entanto, prometem uma batalha jurídica contra a iniciativa que pode levar anos para ser resolvida. /

Fonte: WASHINGTON POST

Samarco prepara volta após desastre de Mariana, diz executivo da BHP



Agora que a licença ambiental para a construção do novo vilarejo de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), foi expedida, a Samarco pode se preparar para voltar à operação. Mas isso deve demorar ainda pelo menos dois anos.
A avaliação é de Bryan Quinn, executivo da anglo-australiana BHP Billiton, sócia da brasileira Vale na mineradora responsável pelo desastre de 5 de novembro de 2015
Chefe do setor de joint ventures não operadas diretamente pela BHP, portanto responsável pela participação na Samarco, Quinn reclama de entraves burocráticos que não permitiram acelerar o processo de remediação ambiental e o pagamento de indenizações após o rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas.
No entanto, Quinn se anima com o aval dado pela Justiça em 8 de agosto ao último acordo com o Ministério Público Federal, dois anos e meio após o acordo firmado com o governo federal.
O novo documento impõe maior participação dos atingidos nas decisões tomadas pela Fundação Renova, criada pelas mineradoras para fazer a recuperação social e ambiental.
“Não me parece necessariamente certo ver a mineração acontecendo e Bento não acontecendo. Isso é muito importante para nós”, afirma Quinn.
Na estimativa da Renova, a construção do novo Bento deve demorar entre 22 e 24 meses. Em paralelo, a Samarco tentará obter nova licença operacional e resolver problemas estruturais internos, além de encontrar soluções de segurança para os rejeitos, a fim de voltar a minerar.
Quinn nega que a empresa soubesse de problemas estruturais na barragem que poderiam ter levado à ruptura, como acusa a Procuradoria.
No fim de 2016, BHP, Vale e Samarco e 21 executivos das três mineradoras viraram réus sob acusação de homicídio com dolo eventual. As empresas também são acusadas de crime ambiental.
A VogBR, que inspecionava a barragem, e um dos seus engenheiros respondem pelo crime de falsificação de laudo ambiental.
A seguir, os principais trechos da entrevista realizada em 9 de agosto.
Responsabilidade da BHP
Li o relatório [de especialistas contratados pelas mineradoras] dois anos atrás, quando foi publicado. Ele é muito abrangente em termos da série de coisas [que contribuíram para o rompimento]. Não tenho como fazer mais comentários, mas creio que o relatório aponta exatamente todos os ingredientes.
Não sou um especialista em barragens nem em rejeitos, mas lendo o relatório e o tipo de coisas que eles arrolam, não estou seguro de que haja uma conclusão [sobre a responsabilidade por falhas].
O relatório é a melhor informação que temos. No nosso entendimento, ninguém tinha informação para dizer que sabia que a barragem iria falhar. Na operação sempre há pequenas coisas que saem errado, as pessoas agem e corrigem, não diria que isso é algo incomum em qualquer indústria pesada.
Não posso fazer comentários sobre a mudança [de eixo da barragem, local do rompimento]. Para ser franco, não sei. Vi no relatório também, mas, se recordo, foi uma das coisas que se somaram, uma combinação de questões que não estava sendo vista pelas pessoas.
As pessoas que trabalhavam para a BHP [e são acusadas de homicídio], em geral, continuam a trabalhar. Alguns escolheram sair, alguns se aposentaram. Nós damos todo o apoio a essas pessoas, eles não fizeram nada de errado.
Não concordamos com as especulações [de que a BHP sabia dos riscos e nada fez] e vamos nos defender custe o que custar.

Por que BHP demorou a falar

Agora temos coisas positivas em duas frentes: a ratificação do acordo de governança, ontem [08/08] e, em segundo lugar mas muito importante, a licença para o reassentamento de Bento Rodrigues concedida semanas atrás. A preparação para as obras de construção está andando, uma notícia fantástica.
De início, antes de a Renova entrar em cena, pusemos nosso foco, energia e esforços em resolver o problema, em consertar com segurança a barragem. Era o foco de nossa companhia, assegurar que a Samarco mantivesse o foco nisso.
Depois, quisemos garantir que a Renova se estabelecesse e fosse eficaz em remediação e compensação.

Vantagens de novo acordo

É frustrante que as coisas estejam demorando tanto, frustrante para nós e para a pessoa que está esperando pela compensação [indenização] ou pela remediação [recuperação ambiental]. Não estou criticando, só gostaríamos de ver as coisas andando muito mais depressa.
Acreditamos que o acordo de governança assinado com todas as partes pode reuni-las todas e, tomara, seguir em frente. Não quer dizer que sempre será sem obstáculos, mas acho que permite um caminho melhor.
Não podemos desfazer o que aconteceu. Tudo que podemos fazer é corrigir isso, em termos de remediação e compensação. As melhores características do acordo estão no fato de as comunidades agora terem envolvimento em todos os seus aspectos, os conselhos, os comitês, os grupos técnicos, as comunidades originais, as comissões locais.

Recuperação x Indenizações

A remediação ambiental está indo excepcionalmente bem. Mais de 130 afluentes estão em recuperação. Aproximadamente 500 nascentes. Se você viaja ao longo do rio nem consegue perceber o que de fato ocorreu.
Em termos sociais, há duas áreas em que estamos mais focados, no reassentamento, uma das questões sociais mais importantes, e em apoiar a Renova para que devolva os pescadores às suas atividades econômica tão rápido quanto possível.
Agora o conselho diretor tem nove representantes, não sete. Agora temos membros da comunidade como parte da representação e temos o Comitê Interfederativo (CIF), o grupo de governança para verificar e assegurar que o trabalho se alinha com o que deve acontecer, uma espécie de instância de supervisão.
Obviamente a estrutura de governança que criamos serve para assegurar que o trabalho seja feito com base na ciência e em aspectos técnicos. No novo acordo temos muito mais envolvimento comunitário, de todo modo, o que é ótimo, temos os procuradores e os defensores públicos também no processo.
A imagem [da Renova como preposto da Samarco] é uma coisa, mas o fato é que, como empresa, queremos ver as coisas progredirem.
Não posso falar pela Vale, mas a BHP quer que se tomem as melhores decisões para remediar o que precisa ser remediado, usando ciência para tomar as decisões, e para compensar o que precisa ser compensado. Não se trata de compensar só por compensar, e depois ver as vidas das pessoas arruinadas depois.

O novo e o velho Bento

Cabe à comunidade e ao município [Mariana] decidir o que querem fazer [com o velho Bento]. Há obviamente questões de segurança no local impactado pelos rejeitos. Se for um memorial, seria bom para a comunidade, mas precisamos avaliar os riscos em termos de estabilidade daquelas construções. Odiaria que as pessoas façam daquilo um lugar para visitar e depois um teto cair e ferir ou matar alguém. Reconheço também que há um cemitério lá, importante para todo mundo visitar os entes queridos que morreram. A questão para mim é garantir que seja seguro.
A Renova está falando em 22 a 24 meses [para construir o novo Bento]. Estão concentrados em fazer a área central primeiro, a infraestrutura, o centro da cidade, e o projeto de arquitetura de cada casa ainda tem de ser aprovado pelo município.

Volta da Samarco

Entendemos que a Samarco é uma organização muito importante para a região de Mariana. Houve várias reuniões comunitárias em favor do retorno da Samarco. Ainda há muitos passos pela frente, licenças, permissões. Parte de minha incompreensão do processo é que sempre há mais uma aprovação [a obter]. A Samarco está tirando a licença de operação, o que deve acontecer até o ano que vem.
Em paralelo ao processo de licença, algum trabalho de preparação tem de ser realizado, algumas questões legais a serem resolvidas com o Ministério Público. Vai ser uma operação de baixa produção por vários anos, portanto a viabilidade será muito diferente do que era antes de ser paralisada.
Assim que se chegar perto de ter a licença de operação aprovada e do trabalho de preparação na nova cava de rejeitos, ainda seria preciso realizar todo o recrutamento, treinamento, assim como transferir as plantas de filtração desde Ubu [em Anchieta, ES], parte do novo projeto da Samarco -separar as areias do lodo nas instalações de rejeitos, de modo a ter mais capacidade.

Viabilidade econômica

Primeiro, temos de trabalhar na estruturação da dívida, de modo a assegurar que a Samarco tenha viabilidade econômica de longo prazo. Estamos concentrados na retomada tanto quanto a Vale, mas temos de alinhar todos os pontos: tem de fazer sentido do ponto de vista de segurança, a comunidade querer, contar com as licenças e ser econômico -se não for, trabalharemos para tornar econômico. Queremos ver a Samarco recomeçar em algum ponto.

Sociedade com a Vale

Certo ou errado, em nenhuma das nossas joint ventures no mundo discutimos informação comercial confidencial. Nosso foco é trabalhar com a Vale pela retomada, e em fazer isso segura e economicamente.
Antes de mais nada, o foco foi sempre na remediação e na compensação. A Samarco podia esperar enquanto isso acontecia. Agora, retomada é algo em que se pode pensar. Não me parece necessariamente certo ver a mineração acontecendo e Bento não acontecendo. Isso é muito importante para nós.
Burocracia
Todo país tem algum nível de processos [burocráticos], e esses processos são adotados em certa altura por alguma razão. A frustração de não ver as coisas andarem mais depressa vem em parte de não entendermos esses processos. Em outros países conhecemos melhor e, portanto, podemos nos antecipar. Estamos um pouco desapontados com a velocidade das coisas, mas para a maioria das pessoas é normal.
Até mesmo para coletar amostras de peixes [do mar] tem havido restrições. Não podemos colher amostras para testar se os peixes estão OK e dar confiança às pessoas. Não entendemos por quê. É uma das coisas do programa que poderia andar bem mais depressa. Porque os pescadores não podem pescar. Eles e nós ficamos tentando entender por que não. A informação que temos hoje não indica muita preocupação, mas sempre há algum tipo de restrição.

Fonte: BEM Paraná

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Proibido em 65 países, amianto volta ao mercado dos EUA



A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) permitiu a reintrodução do amianto na indústria norte-americana, conforme relatado pela Fast Company. A substância perigosa, proibida em 65 países, poderá agora ser introduzida nos EUA por meio de produtos e materiais domésticos comuns. Este é o resultado de um “SNUR”, sigla em inglês para Nova Regra de Uso Significativo, que permite, entre outras coisas, que produtos contendo amianto sejam aprovados pelo governo federal.
A brecha na lei surge a partir da avaliação do risco de produtos químicos potencialmente nocivos. De acordo com a EPA, as avaliações de risco não considerarão mais o efeito ou a presença de substâncias no ar, solo ou água, oferecendo uma brecha para aqueles que buscam restabelecer produtos derivados do amianto.  Embora o amianto não represente uma ameaça direta aos consumidores, o perigo de interagir com fibras de amianto prejudiciais aumenta para mineradores, operários da construção civil e pessoas que vivem perto de aterros sanitários.
O que antes era um mineral comum na indústria da construção devido às suas propriedades de retenção de calor, nas últimas décadas tem sido associado a doenças como o câncer de pulmão. Isso levou à proibição de produtos contendo amianto em 65 países ao redor do mundo, incluindo grande parte da Europa e do Golfo Pérsico, juntamente com países como o Japão e a Coreia do Sul na Ásia; Austrália e Nova Zelândia na Oceania; África do Sul e Moçambique na África; e seis países latino-americanos, incluindo Chile, Argentina, Uruguai e Brasil.
Embora os EUA nunca tenham proibido inteiramente a substância, seu uso foi restringido pela legislação entre 1972 e 1989. Apesar disso, estima-se pela Organização de Conscientização sobre a Doença de Amianto que 40.000 pessoas nos EUA morrem todos os anos por causas relacionadas à substância

Fonte: Arch Daily

Vale diz que questão ambiental não é problema, mas oportunidade



A brasileira Vale quer ser a maior mineradora ambientalmente “friendly” (amigável) do mundo e avalia que endereçar bem questões ambientais pode ser uma “oportunidade” de redução de custos, conforme a companhia adota medidas voltadas a mitigar o impacto de suas atividades. “Teremos o mínimo de rejeitos indo para barragens (no futuro)”, disse nesta quarta-feira o diretor de Estratégia, Exploração, Novos Negócios e Tecnologia da companhia, Juarez Saliba de Avelar, durante evento em São Paulo.
Ele citou transportes e métodos de exploração mais eficientes, além do próprio minério de alta qualidade produzido pela empresa, como fatores para ser uma empresa que produz menos impactos ao meio ambiente. O movimento se dá enquanto a companhia disponiliza recursos para garantir reparações devido ao rompimento da barragem da Samarco, uma joint venture da mineradora com a BHP Billiton.
Em 2015, a barragem de Fundão da Samarco se rompeu, matando 19 pessoas e causando o maior desastre sócio-ambiental do Brasil. O diretor destacou ainda que a Vale busca se tornar autossuficiente em consumo de energia nos próximos anos, a partir de fontes em sua maioria renováveis. “Temos uma meta na Vale… Nos próximos dois, três anos, vamos atingir 100 por cento da energia elétrica que a gente demanda, seja hidrelétrica, solar ou biomassa, que também está entrando em nossa equação”, destacou ele durante apresentação em evento do setor de mineração, em São Paulo.
Em sua avaliação, a atenção à questão ambiental tende a ajudar a Vale a reduzir custos, um dos pilares para ganhar ainda mais competividade. “O grande problema das mineradoras em geral foi perder a mão dos custos. Todas essas iniciativas (ambientais) estão levando à redução dos custos. A questão ambiental não virou um problema para a Vale, virou uma oportunidade tremenda”, afirmou.


Fonte: Reuters

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Japão encontra ‘terras raras’ suficientes para suprir demanda global



Pesquisadores japoneses encontraram toneladas de metais valiosos, denominados “terras raras”, no fundo do mar perto da Ilha de Minamitorishima, localizada no Oceano Pacífico e pertencente ao território japonês. Ao todo, foram descobertos uma concentração de aproximadamente dezesseis milhões de toneladas desse precioso material, cuja classificação pertence à minerais de terras raras, matéria-prima essencial para a fabricação de baterias de smartphones e de veículos movidos à eletricidade.
A descoberta, realizada por pesquisadores de universidades e centros de pesquisa de Tóquio, está documentada em estudo publicado no periódico científico Nature. Segundo os autores do estudo, a quantidade de matéria encontrada é o suficiente para fornecer esses metais para todo o mundo por muito tempo.
O título “terras-raras” é uma referência à sua composição, que pode conter um ou mais dos 17 metais de terras raras, localizados na penúltima linha da tabela periódica, ao lado esquerdo. Esses elementos são abundantes na crosta terrestre, porém, na maior parte das vezes, estão dispersos, e não agrupados, o que torna difícil a extração. Atualmente, há poucas áreas viáveis economicamente onde possam ser minerados – ação que, na maior parte das vezes, custa caro.
A China é um dos países que mais detém esses minerais e que abastece o restante do mundo – inclusive para o Japão, seu vizinho, e um dos maiores produtores de eletrônicos do globo. É por isso que esses minerais encontrados na Ilha de Minamitorishima podem alterar as atuais relações econômicas globais.
De acordo com os autores do estudo, há minerais suficiente para atender a demanda global. Por exemplo, há ítrio para cerca de 780 anos, disprósio para 730 anos, európio para 620 anos e térbio para 420 anos.
Terras raras
Terras raras são chamadas por alguns de “o ouro do século XXI” devido a sua raridade e valor econômico. Eles são formados a partir da atividade de vulcões e acredita-se que também tenham surgido a partir de explosões de supernova antes de a Terra ser originada. Após o Big Bang, quando a Terra foi formada, os minerais foram incorporados às mais profundas porções do manto terrestre, uma camada de rocha que fica abaixo da crosta.
De acordo com a classificação da IUPAC, terras raras são um grupo relativamente abundante de 17 elementos químicos, dos quais 15 pertencem na tabela periódica dos elementos ao grupo dos lantanídeos, aos quais se juntam o escândio, elementos que ocorrem nos mesmos minérios e apresentam propriedade físico-químicas semelhantes.
As terras raras são usadas na fabricação de vários produtos. Entre os principais estão os superimãs, telas de celulares, de tablets e de computadores, no processo de produção da gasolina e em painéis solares. É estimado que a maior porcentagem das terras raras esteja localizada na Ásia, especialmente na China que, até então, detém 2/3 das reservas globais e mais de 80% do total comercializado no mundo.
Devido aos movimentos tectônicos, partes do manto (e, portanto, dos minerais de terra rara) emergiram até a superfície. No geral, as terras raras são metais que servem de matéria-prima essencial para itens de alta tecnologia. Localizá-los com o grau de pureza e concentração necessárias é uma tarefa difícil, por isso são tidos como raros.
Elementos
As principais fontes econômicas de terras raras são os minerais, monazite, bastnasite, xenótimo, e loparite, além de argilas lateríticas que absorvem ions.
Importância
Com praticamente o monopólio chinês das terras raras, o preço desse commoditie é extremamente valorizado no mercado mundial. Contudo, a grandiosa descoberta do Japão “não afetará o mercado de terras raras”, disse Naohiro Niimura, sócio da Market Risk Advisory, segundo o jornal financeiro Nikkei, ressaltando que a extração da jazida encontrada em Minamitorishima irá demorar até realmente ser uma realidade.
“O grande problema é a profundidade”, explica o ‘Nikkei’. Os metais estão enterrados sob águas de até 5.600 metros de profundidade – muito profundo para ser extraído com a tecnologia existente. O próximo passo para pesquisadores e empresas será descobrir como alcançá-los.

Fontes: Revista Galileu | Jornal financeiro Nikkei

terça-feira, 8 de maio de 2018

Mineração no entorno do Rola-Moça ameaça abastecimento na Grande BH



A mineração avança no entorno do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, uma das principais áreas verdes de Minas, e ameaça o abastecimento de água na Grande BH. As jazidas de minério de ferro de duas empresas, embargadas pela Justiça no passado, poderão ser exploradas novamente.
Para ambientalistas, a efetivação dos projetos, que incluem até a construção de uma estrada cortando a unidade de conservação, também vai impactar na fauna e flora locais. Já a Mineradora Geral do Brasil (MGB) e a Santa Paulina, responsáveis pelos empreendimentos, garantem que o abastecimento na região não será afetado.
Os processos de licenciamento ambiental das duas minas estão sendo analisados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Porém, em 16 de janeiro, a Santa Paulina conseguiu, nos tribunais, autorização para voltar a funcionar.
“Aquela cava está muito perigosa. Imagina se um carro ou pessoa cai lá. Queremos recompor o terreno e, para isso, temos que minerar” (Geraldo de Magalhães Lopes, gerente da MGB)
Até julho, o grupo Camargos Júnior, responsável pela Santa Paulina, terá que comprovar a regularização das atividades para que os trabalhos sejam retomados em Ibirité. Foi firmado junto ao governo do Estado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
A mina era explorada desde a década de 1940. Em 2009, no entanto, o Ministério Público (MP) embargou a extração de minério no local. O órgão alegou a necessidade de estudos criteriosos para a renovação da licença, já que a legislação ambiental passou por mudanças nos quase 70 anos de atuação do grupo por lá.
Desde então, a mineradora trava uma briga na Justiça para tocar os projetos. A Santa Paulina pretende operar por mais três décadas na região, com a previsão de retirar 960 mil toneladas de minério por ano.
“Além dos riscos de secar mananciais, já que se reduz o lençol freático, a mineração ainda pode causar doenças respiratórias” (Pedro Cardoso Oliveira, Movimento Serra Sempre Viva)
Nascentes
Em jogo está uma área com centenas de nascentes que ajudam no abastecimento de Ibirité, Brumadinho, Casa Branca, Belo Horizonte e outras cidades do entorno.
“O Parque do Rola-Moça foi criado para proteger esses mananciais. Quando as mineradoras atingirem o lençol freático, vão deixar várias comunidades sem água”, afirma o diretor-presidente da ONG Ecoavis, Adriano Gomes Peixoto. A organização integra um grupo de ativistas que elaborou abaixo-assinado contra o retorno das atividades das empresas.
1,3 milhão de moradores de BH, Ibirité, Brumadinho e outras cidades da região metropolitana são abastecidos por mananciais do Rola-Moça, segundo o Movimento Serra Sempre Viva
Danos
Ao lado do Mirante dos Veados, em Brumadinho, está a Mina de Casa Branca, da Mineradora Geral do Brasil (MGB). Lá, o MP conseguiu a interdição, em 2001, em razão de danos ambientais gerados sem as devidas compensações ambientais.
Agora, a empresa alega que a cava formada ameaça uma estrada da região e precisa de manutenção. Além disso, tenta autorização para sustentar a estrutura e minerar por seis anos. A previsão é extrair 17 milhões de toneladas. “Só teremos condições de recuperar a área se minerarmos”, garante o gerente da MGB, Geraldo de Magalhães Lopes.

Ambientalistas e OAB questionam construção de estrada

A criação de uma estrada na área do parque do Rola-Moça é questionada por especialistas. Alguns, inclusive, afirmam que a proposta é inconstitucional.
Segundo a Semad, o projeto da MGB contempla a construção de uma via de aproximadamente 1,5 quilômetro paralela à existente. “Para fazer uma estrada ao lado da que já existe, será necessário passar por dentro do parque. Já imaginou o tamanho do impacto dos caminhões carregando toneladas de minério de ferro dia e noite?”, questiona o diretor-presidente da ONG Ecoavis, Adriano Gomes Peixoto.
Para o secretário-geral da Comissão de Direito Minerário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Alexandre Costa, a implantação de uma estrada dentro dos limites da área verde fere a lei 9.985, de 2000, chamada de Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).
“Esse parque é uma unidade de conservação integral. Conforme essa norma, os recursos só podem ser usados de forma indireta. Não pode haver danos”.
O gerente de mineração da MGB, Geraldo de Magalhães Lopes, afirma que todos os possíveis impactos estão sendo avaliados e que as compensações serão feitas.

Ibirité e Brumadinho

Com receio de possíveis impactos sobre os mananciais, a população de Ibirité e movimentos de proteção ao meio ambiente lançaram abaixo-assinado pedindo que as atividades das mineradoras não sejam retomadas. Já foram recolhidas 9 mil assinaturas.

O secretário de Meio Ambiente de Ibirité, Anderson Mourão, disse que aguarda os relatórios e estudos que serão apresentados para falar sobre o projeto. A Prefeitura de Brumadinho, onde está a mina de Casa Branca, não quis se pronunciar.
Segundo a Semad, na análise da Licença Prévia (LP) será necessária a aprovação também do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) “em função da supressão de vegetação nativa de campo rupestre”. Já o Ibama informou que não houve pedido até o momento.
Haverá ainda parecer das unidades de conservação Parque Estadual da Serra do Rola-Moça e Apa-Sul.

Além disso

A Mineração Santa Paulina reforçou que obteve, por meio de decisão judicial, respaldo para retomar os trabalhos e comprovar que está regularizando as ações. Segundo a empresa, serão gerados 240 empregos diretos na etapa inicial de atividades – dois primeiros anos – e mais 360 na segunda, nos três anos seguintes. Para cada emprego direto, “acredita-se que são gerados mais 13 indiretos”.
Ainda conforme a mineradora, os “riscos de impacto ao meio ambiente são inexpressivos, tendo em vista que o maior impacto já foi gerado quando da abertura do empreendimento em 1940, que foi a supressão da vegetação local, que hoje não mais existe devido à abertura da cava”. Além disso, foi informado que a Mineração Santa Paulina é “muito pequena e de baixíssimo impacto”.

Fonte: Hoje em Dia