terça-feira, 21 de junho de 2016

Projeto para exploração de ouro em Senador José Porfírio gera polêmica


Um projeto bilionário de uma empresa canadense promete extrair 150 toneladas de ouro, em 17 anos, no município de Senador José Porfírio, na volta grande do Xingu, no Pará. Mas, os danos ambientais que o novo empreendimento pode causar na região estão gerando polêmica sobre o projeto.
Nos anos 80, Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, que fica no município de Curionópolis, no sudeste do Pará, atraiu milhares de pessoas. Durante uma década, foram extraídas mais de 30 mil toneladas de ouro e a exploração do tesouro deixou sérios problemas socioeconômicos na região. O novo tesouro fica a 400 km da antiga Serra Pelada e já tem dono: a empresa canadense Belo Sun. Em 2012, na bolsa de valores de Toronto teve o lançamento do projeto Belo Sun, com investimento de R$ 1,5 bilhão e área equivalente a 1.700 campos de futebol.
Quatro anos depois, a extração de ouro ainda não começou, mas a polêmica já é grande. A região já sofre os impactos da usina hidrelétrica de Belo Monte. A futura mina de ouro fica a 11 km da barragem da hidrelétrica. ”Há necessidade de se avaliar se a volta grande do Xingu comporta um novo empreendimento. Qualquer desastre ambiental que ocorra naquela região é de magnitude incalculável”, afirma a procuradora da república, Thais Santi.
Na região há três povoados onde vivem ribeirinhos, índios e garimpeiros que chegaram ao local atrás de ouro depois que o sonho de Serra Pelada acabou. Com a chegada de Belo Sun, o tesouro agora tem dono e mais de 600 garimpeiros que trabalham sem autorização há mais de 30 anos, temem perder o sustento e a casa.

Danos ao meio ambiente

Para extrair o ouro da rocha, a mineradora vai extrair uma substância tóxica, o cianeto. “Se o cianeto chegar no rio ou cair no solo, vai ter quase uma catástrofe ambiental, dependendo do volume de cianeto que vão ser derramados”, explica Jorge Tenório, professor de engenharia química da USP.  A Belo Sun afirma que fez os estudos necessários para o projeto. “Os impactos potenciais, os riscos eles foram todos mapeados pelo empreendimento. Belo Sun segue nos padrões mais rigorosos, internacionais e nacionais para definição da sua engenharia”, ressalta Mauro Barros, diretor da Belo Sun.
Para conter os rejeitos tóxicos, a empresa planeja construir uma barragem de 96 milhões de metros cúbicos. Um dos engenheiros que elaboraram o relatório encomendado pela Belo Sun atestando que o projeto é viável e seguro, é o mesmo que assinou o laudo que garantia a estabilidade da barragem de Fudão, em Mariana (MG).
“Quem garante, nesse cenário, que com Belo Sun o rio Xingu não será o rio Doce de amanhã?”, questiona Carolina Reis, advogada do Instituto Socioambiental.
Em outro documento, o relatório de impacto ambiental elaborado pela Belo Sun, a própria empresa admite que o risco de rompimento da barragem é alto, mas o representante dos canadenses garante a segurança do projeto. “O empreendimento está a uma média de 1,5 km do rio Xingu. Além disso, a barragem de rejeitos dela está localizada em um vale natural, de forma que isso já traz mais segurança”, afirma o diretor da Belo Sun.
Quando for extraído das rochas, o tesouro de Belo Sun deve render R$ 235 milhões por ano em impostos. Para o Departamento Nacional de Produção Mineral, está tudo certo com o empreendimento.
“Nós acabamos de aprovar o plano de aproveitamento econômico e estamos enviando a Brasília para o ministro aprovar a concessão”, esclarece Ambrósio Ichihara, chefe da fiscalização do Departamento da Produção Mineral.
O Governo do Pará é quem vai dar a palavra final sobre a implantação do projeto. “Se não tiver a viabilidade ambiental e socioeconômica, com certeza absoluta não é bem vindo ao estado do Pará”, garantiu Luiz Fernandes, secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará.
A mineradora quer começar a extrair ouro em três anos e a polêmica segue em discussão. “Há um receio muito grande do que vai ser feito para manter o modo de vida dos indígenas, das populações ribeirinhas. É preciso ter muita serenidade na hora de analisar e fazer esses estudos”, diz Francisco Nóbrega, do Conselho Nacional de Direitos Humano.

Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário