quarta-feira, 11 de maio de 2016

Siderúrgicas Ganham Fôlego no Ano


Dois reajustes em um mês não foram suficientes para que o preço do aço plano brasileiro se equiparasse ao o internacional. O mercado estima que o desconto do produto doméstico ainda está acima de 10%, o que abre bom espaço para mais aumentos. Essa perspectiva e a chance de alta também nos produtos longos ajudaram as ações de siderurgia disparar na bolsa, com altas bem acima do índice Ibovespa.
Até sexta-feira, os papéis da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) subiam 178,5% no acumulado de 2016 – o ganho mais expressivo entre as três concorrentes. Todavia, a ação ainda é vista como muito cara por alguns analistas, que em nenhum momento desse “rali” indicaram a compra. Pesam muito ainda as dificuldades financeiras da empresa.
Na Usiminas, a ação preferencial classe A têm ganho de 52,9%, ante 28% da ON. A perspectiva é melhor para a siderúrgica mineira, após chegar ao seu pior momento em anos devido à crise no mercado interno e da falta de liquidez para honrar a dívida de curto prazo. Os reajustes e o aumento de capital de R$ 1 bilhão previsto para este mês dão fôlego à empresa e começam a mudar a visão sobre suas finanças.
A Gerdau, no entanto, desde que se iniciou a deterioração mais aguda do setor, se manteve a preferida dos analistas. Suas operações na América do Norte ajudam a ofuscar a queda de receita no Brasil, sua alavancagem encontra-se praticamente estabilizada – e, segundo a direção, com tendência de queda. E há possibilidade também de um reajuste de preço.
Seus papéis preferenciais ostentam alta de 58,1% no ano. O Ibovespa, no mesmo período, 19,3%.
Essa reação nos preços se somou à volta do interesse de investidores pelo setor e ajudou na valorização. “Houve um fator global, com o Federal Reserve [banco central americano] anunciando que não aumentaria agora os juros. Os contratos futuros de commodities melhoraram em geral com uma realocação de portfólio mundialmente, e o peso maior foi exatamente para as matérias-primas”, explica Ivano Westin, analista do Credit Suisse.
Neste ano, o preço do aço se fortaleceu. Laminados a quente, por exemplo, subiram cerca de US$ 200 a tonelada na China e nos Estados Unidos. Em reunião com analistas para falar dos resultados trimestre, a maior siderúrgica do mundo, ArcelorMittal, explicou que em todos seus mercados vende agora os produtos a pelo menos US$ 100 a mais. O minério de ferro sobe mais de 30%.
Westin explica que isso trouxe margens positivas para as usinas chinesas novamente. “No quarto trimestre, cerca de 93% da indústria [na China] perdia dinheiro. Nos últimos dados, estava em 15%”, diz. Com uso de capacidade em 78%, houve um processo de estocagem tanto do aço como de sua matéria-prima, o minério de ferro. “O que devemos ver agora é a volta das empresas que estavam paradas, se conseguirem acessar crédito. Não ficaria surpreso se no segundo semestre houvesse correção para baixo [nos preços].”
Thiago Ojea, analista do Citi, calcula que hoje haja desconto de 12% a 15% da bobina a quente brasileira sobre a importada. Historicamente, o produto nacional é vendido com prêmio entre 5% e 10%. Exatamente por não haver certeza de que a cotação do aço vá se sustentar, as usinas pararam no segundo reajuste. Também há dúvidas sobre como ficará o câmbio, que influi nessa conta. É também age para frear importações.
A Usiminas, acrescenta Ojea, é a que mais ganha com reajustes. A estimativa é que a cada 10% de aumento nos preços, o Ebitda da empresa suba em R$ 784 milhões. O indicador é previsto pelo analista em R$ 829 milhões durante 2016.
“Agora, ninguém fará um novo anúncio. Mas há espaço. Em aços longos também há oportunidades, lá fora todos os tipos de produtos subiram demais”, afirma o analista. André Gerdau Johannpeter, presidente da Gerdau, na divulgação do balanço, não revelou se vai aumentar os preços, mas admitiu que essa chance existe.
Por outro lado, em termos de demanda fisica de aço, o mercado interno só deve voltar a reagir a partir de 2017, dizem os analistas. Neste ano, é possível que nos últimos meses seja observado leve aumento, mas a perspectiva do consumo de aço ainda é negativa.
Westin acredita que o “fundo do poço” provavelmente fique em 2016, com a recuperação das vendas só ocorrendo entre 2017 e 2018. “Não consigo ficar otimista com este ano”, diz. “As ações já refletem essa expectativa de melhora futura”. O Credit é um dos bancos mais pessimistas no ano, com estimativa de 4,2% de queda no Produto Interno Bruto (PIB).
Para Ojea, o ano continuará ruim e uma perspectiva de início de inflexão só poderá ser vista no fim do ano. “Em 2017, a economia deve melhorar, a confiança do empresariado também e com novos investimentos abre-se uma oportunidade melhor para o setor”, diz.

Fonte: Valor Economico/Renato Rostás | De São Paulo

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