quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Sobre a crise do minério



Não sou especialista em mercado financeiro e não faço sugestões de investimentos. Mas, contrariando a maior parte dos analistas, apostaria algumas fichas na Vale mirando o médio prazo.
Explico: o momento é terrivelmente ruim para a mineração. Dificilmente ficará pior, mas deverá permanecer fraco, pelo menos, ao longo de 2016 e parte de 2017. Mas, quando se recuperar, as gigantes globais do setor (Vale, Rio Tinto e BHP Billiton) serão donas de uma fatia de mercado maior do que a de antes da crise.
Na semana passada, o minério de ferro foi cotado abaixo de US$ 39 a tonelada (preço de referência para 62% de concentração entregue na China), um patamar que não era atingido desde dezembro de 2007. Para se ter ideia da depressão dos preços, em fevereiro de 2011, no pico da cotação, o minério era vendido a US$ 187 a tonelada.
O motivo da queda é a desaceleração do consumo chinês e a sobreoferta mundial gerada pela entrada em operação nos últimos anos de uma série de novas capacidades, principalmente na China e Austrália, e também pelo aumento de produção das três grandes.
Atualmente, Vale, Rio Tinto e BHP Billiton respondem por mais de 60% do comércio transoceânico de ferro. Com o possível fechamento de minas na China com operações mais caras, e portanto menos competitivas (quanto menor a concentração de ferro no minério, maior o custo de produção), o banco Goldman Sachs prevê (conforme publicado ontem pelo Valor Econômico) que as três grandes poderão abocanhar algo em torno de 80% do mercado mundial de ferro até 2018.
Por terem economia de escala e minas de qualidade (o menor teor de ferro nas minas operadas por Rio Tinto e BHP Billiton na Austrália é compensado pela proximidade do mercado chinês), as três grandes conseguem ao menos equilibrar custos com um preço da tonelada por volta dos US$ 35. Operações com custo de produção superior a isso estariam perdendo dinheiro e tenderiam a sair do mercado. O problema é que esse movimento está se dando mais lentamente que o esperado, principalmente na China, onde a maior parte das empresas da cadeia da mineração e da siderurgia é composta por estatais subsidiadas pelo governo.
Como já disse em outras oportunidades, a derrubada dos preços do minério é deliberada e estratégica. Tanto que a Vale, apesar do recuo da demanda mundial, continua aumentando as exportações. As vendas brasileiras de minério de ferro (e a Vale é responsável por mais de 80% do volume) cresceram em 20 milhões de toneladas de janeiro a novembro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, passando de 307,9 milhões de toneladas para 326,7 milhões de toneladas. Mas o faturamento com as exportações caiu radicalmente, para quase a metade, de US$ 23,8 bilhões para US$ 12,8 bilhões na mesma comparação.
A vantagem de ser uma das empresas líderes de um setor oligopolizado é a capacidade que se tem de controlar preços reduzindo a oferta. Vale, Rio Tinto e BHP Billiton poderiam estar fazendo isso. Mas estão hoje mais preocupadas em tirar os concorrentes menores do mercado do que garantir margens. Portanto, repito, a expectativa é que cheguem mais fortes quando a demanda mundial voltar a reagir.

Fonte: Hoje Em Dia

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