terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Colapso das commodities deve provocar novos cortes de custos em petrolíferas e mineradoras



Nestes primeiros dias do ano, as empresas de recursos minerais que já enfrentam dificuldades estão lidando com novas pressões para cortar gastos e pagamentos de dividendos a investidores depois que o aprofundamento da queda dos preços das commodities eliminou bilhões de dólares em valor dos acionistas ontem.
As empresas de petróleo e mineração que cresceram rapidamente ao longo dos últimos 10 anos, quando os preços das commodities explodiram, já eliminaram dezenas de milhares de empregos e cancelaram projetos que somam bilhões de dólares. Agora elas devem tentar promover novas economias em meio à constatação de que as velhas esperanças de uma recuperação dos preços das commodities sucumbiram diante da fraca demanda chinesa.
Depois de as empresas de petróleo terem atravessado um grande ciclo de crescimento nos últimos 10 anos, elas estão agora “em outro [ciclo] que será de queda por algum tempo”, disse o diretor-presidente da BP PLC, Bob Dudley, em uma entrevista à rede britânica BBC, transmitida no último fim de semana. Um porta-voz da BBC disse que os comentários estão em linha com os que ele fez no ano passado.
Para as petrolíferas, um colapso prolongado pode ser parte de uma mudança na dinâmica mundial do mercado. A demanda chinesa por commodities, que sustentou os preços por um longo tempo, agora está minguando. E, ao longo do último ano, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) abandonou seu papel tradicional de estabilizadora dos preços do petróleo e, em vez disso, alimentou o excedente de oferta competindo com os produtores de petróleo de xisto dos Estados Unidos. Outros produtores de petróleo também mantiveram sua produção a todo vapor, em alguns casos para pagar suas dívidas ou apoiar os gastos do governo, mesmo que isso resulte em uma pressão ainda maior sobre os preços.
Após investir mais de US$ 200 bilhões em projetos de petróleo no ano passado, depois de os preços terem caído pela metade em relação a meados de 2014, as grandes empresas do setor podem não elevar os investimentos quando os preços se recuperarem, segundo a firma de pesquisa Bernstein Research, em relatório divulgado esta semana.
“Os investimentos das petrolíferas permanecerão limitados mesmo se os preços do petróleo subirem”, escreveram analistas da Bernstein. Segundo eles, a relação tradicional que faz entre o aumento dos investimentos e o preço do petróleo deve ser “quebrada” depois que as grandes empresas que investiram mais que seu fluxo de caixa quando os preços eram o triplo do que são hoje entrarem em um novo período de moderação de gastos.
Os problemas do setor pressionarão as petrolíferas a orquestrar compras e vendas de ativos, de acordo com a consultoria de petróleo Wood MacKenzie nesta semana, com empresas de private equity em uma posição privilegiada para se beneficiar dessa situação.
“O aumento do estresse forçará mais empresas a irem ao mercado”, disse Luke Parker, diretor de pesquisa e análise corporativa da Wood MacKenzie. “Os resultados se tornarão ainda mais enxutos sem a venda de ativos para equilibrar as contas.”
Para as mineradoras, a situação financeira é mais grave. A suíça Glencore PLC e a gigante britânica Anglo American PLC cortaram seus dividendos — um passo que as grandes empresas estão relutantes em tomar receosas em desagradar acionistas importantes — depois que os preços das ações caíram diante de preocupações relativas a seus fluxos de caixa e dívidas.
A maior mineradora do mundo, a BHP Billiton Ltd., está enfrentando pressões similares com a queda dos preços do minério de ferro, tendo que lidar com o problema do rompimento da barragem de contenção de rejeitos da Samarco em Mariana, Minas Gerais, há dois meses. Uma porta-voz da BHP, que é acionista da Samarco, não quis comentar.
Os investidores manifestaram seus receios com um amplo movimento de venda de ações ontem, quando a queda dos mercados chineses criaram novas incertezas sobre a demanda por commodities. Os papéis da gigante do petróleo e gás Royal Dutch Shell PLC fecharam em queda de quase 3% em Londres, enquanto os da BHP caíram cerca de 5%. As ações da maior mineradora americana, a Freeport McMoRan Inc., chegaram a ser negociadas em queda de 8,27% ontem nos EUA.
O valor de mercado conjunto das cinco maiores mineradoras do mundo — BHP, Rio Tinto PLC, Glencore, Vale SA e Anglo American — caiu 52%, ou US$ 269 bilhões, desde janeiro de 2015. As cinco maiores petrolíferas privadas, ExxonMobil Corp., Shell, BP, Chevron Corp. e Total SA, viram seu valor de mercado total cair 20%, ou mais de US$ 205 bilhões no mesmo período.
Os preços do petróleo caíram mais de 65% desde 2014, atingindo ontem o menor valor em 11 anos, abaixo de US$ 33 por barril, antes de recuperar parte das perdas. Os preços dos principais metais industriais como cobre e zinco caíram 34% e 28% respectivamente desde junho 2014. A China é responsável por cerca de 45% da demanda global dos dois metais.
A combinação da crise chinesa e da produção de petróleo elevada nos EUA e nos países da OPEP oferece pouca esperança de uma recuperação no curto prazo. Para as petrolíferas, o esperado retorno das exportações do Irã quando as sanções ocidentais sobre o país forem suspensas este ano pode derrubar ainda mais os preços.
As grandes petrolíferas — cujos investimentos em novos projetos, recompras de ações e pagamentos de dividendos depenaram seu fluxo de caixa — têm sinalizado cortes. Elas desistiram de grandes projetos, como é o caso da Shell, que abandou seu empreendimento nas areias betuminosas canadenses. O setor petrolífero demitiu mais de 250 mil pessoas em todo o mundo, dizem analistas. Em dezembro, a Shell reduziu seus investimentos estimados para este ano em US$ 2 bilhões, para US$ 33 bilhões, depois de ter promovido no ano passado cortes de custos e outras reduções de investimento que somaram US$ 12 bilhões.

Fonte: WSJB

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