O maior desastre ambiental da história do Brasil está completando, nesta segunda-feira (25), 81 dias. Dezessete pessoas morreram, duas ainda estão desaparecidas e, até agora, as causas da tragédia de Mariana ainda não foram esclarecidas. Existem hipóteses. Uma delas é que os rejeitos da barragem da Samarco tenham sofrido um processo chamado de liquefação.
A explicação para o rompimento pode estar no nível de água acumulada na Barragem de Fundão. O professor de engenharia hidráulica da UFMG Carlos Martinez mostra como deve ficar o rejeito numa barragem de minério: firme, resistente. Quando ele vai ficando saturado de água pode ocorrer o que os especialistas chamam de liquefação.
O modelo mostrado no vídeo ilustra uma barragem como a de Fundão, se ela pudesse ser vista de lado. A areia representa os rejeitos. Ela está saturada, ou seja, encharcada, como acontece mesmo numa barragem. O que a gente vê é como ela fica instável quando ocorre o fenômeno da liquefação.
A vibração de um motor simula um abalo de terra. As ondas do tremor provocam a liquefação. Não é uma reprodução exata, mas é possível ver que a areia vai cedendo e não consegue sustentar a barragem. “Ela rompe pra dentro, depois aquela massa de material que estava presa, aprisionada no reservatório ela passa por cima e provoca a abertura de uma brecha”, aponta Carlos Martinez, professor de engenharia hidráulica UFMG.
Este alerta está no inquérito da Polícia Federal, que o Jornal Nacional teve acesso. Em depoimento, o engenheiro que projetou a Barragem de Fundão, Joaquim Pimenta de Ávila, disse que visitou a barragem como consultor da Samarco em 2014. Na época, eram feitas obras de alteamento, que é a ampliação da capacidade para receber mais rejeitos de minério.
Pimenta de Ávila disse à polícia que “a Samarco estava construindo um reforço calculado segundo uma metodologia que não levava em consideração a liquefação na fundação do dique”.
No dia do rompimento de Fundão, foram registrados 11 sismos, tremores de terra, na região. O segundo, antes da tragédia, chegou a 2,7 pontos na escala Richter.
No depoimento à Polícia Federal, Pimenta de Ávila afirmou “que o sismo ocorrido no local, de 2,6, somente afetaria se o rejeito já estivesse quase saturado e próximo de estado de liquefação”.
O professor da UFMG diz que os tremores devem ser investigados. Mas que eles seriam apenas o gatilho para o rompimento da barragem.
“O que levou ao colapso provavelmente foi a junção de uma dezena de fatores. Liquefação, pode haver um problema de drenagem, pode haver um problema construtivo da estrutura. Isso tudo somado pode resultar num evento catastrófico”, diz o professor.
A Samarco declarou que repudia qualquer especulação sobre ter conhecimento prévio de risco iminente de ruptura na barragem de Fundão. A mineradora afirmou que os alertas nos relatórios de consultores jamais indicaram esse risco ou a necessidade de interdição das operações.
E que as recomendações para melhorar as condições da barragem sempre foram consideradas pela empresa.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário