O desastre ambiental em Mariana, a crise política e a recessão na economia são fatores suficientes para nocautear a produção industrial em Minas Gerais. Desde julho de 2014, o ritmo do setor no estado vem acumulando perdas e, no primeiro bimestre deste ano, já despencou 15,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Uma queda que, segundo especialistas, demonstra a gravidade do atual cenário em que vive a atividade e aponta a dificuldade do setor em reagir. No país, a indústria nacional recuou 2,5% em fevereiro com relação a janeiro. Dos 14 locais pesquisados pelo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem, 11 registraram quedas na produção em fevereiro, inclusive, Minas, com perda de 0,7% em relação ao mês anterior.
No indicador acumulado para o período janeiro-fevereiro de 2016, frente a igual período do ano anterior, a média nacional foi de recuo de 11,8%, e Minas está entre os cinco estados que registraram perdas maiores que a do país. O tombo mineiro de 15,2% ocorreu, segundo o IBGE, “com perfil disseminado de taxas negativas”, uma vez que 11 dos 13 ramos pesquisados em Minas apontaram queda na produção. O destaque é para as indústrias extrativas (-23%) e de veículos automotores, reboques e carrocerias (-40,2%) (veja quadro ao lado). “Pelo quarto mês seguido o desempenho negativo do setor extrativo foi influenciado, especialmente, pelo rompimento da barragem de rejeitos, em Mariana. O setor automotivo, como todo, vem sofrendo com a crise econômica”, comenta a Cláudia Pinelli, economista do IBGE Minas.
Para ela, a situação é preocupante. “A indústria mineira vem sofrendo desde julho de 2014. A maior queda veio em janeiro deste ano, com recuo de 18,6%, mas naquele mês houve férias coletivas nas indústrias, o que pode ter refletido nessa queda maior. Quando é comparado janeiro e fevereiro deste ano, ainda há uma redução de 0,7%. Ou seja, é um processo contínuo”, avalia.
Na comparação entre os meses, a atividade fabril mineira recuou 11,6% em fevereiro deste ano em relação ao mesmo período de 2015, marcando a vigésima terceira taxa negativa consecutiva nesse tipo de confronto. “São números que demonstram a continuidade do processo de retração na indústria”, comenta o economista da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Guerra. Segundo ele, os dados mostrados ontem pelo IBGE para a produção de Minas ainda refletem a tragédia em Mariana, quando houve o vazamento dos 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos da exploração de minério de ferro da Samarco, em novembro do ano passado. “Além disso, estamos com outros setores em crise, como é o de veículos automotores, que está sofrendo quedas muito fortes”, observa.
Para Guerra, com essa situação contínua, que vem desde julho de 2014, não há até o momento sinais de que esse processo de derrubada da indústria seja interrompido no curto prazo. “Essa incerteza em que vive o país influência nas decisões empresariais e, por enquanto, ninguém quer investir”, afirma. O economista da Fiemg diz ainda que o mais preocupante é que o setor de serviços está com retração acelerada no país. “É um sinal negativo. Há um número grande de carros em estoque e as pessoas reduzindo o consumo”, diz,
NO BRASIL Considerando o conjunto do país, a indústria recuou 2,5% em fevereiro na comparação com janeiro, e este foi o pior resultado desde dezembro de 2013. Considerando apenas o mês de fevereiro, foi a maior queda da série histórica, que teve início em 2002. Os maiores recuos foram nos estados da Bahia (-7,9%) e Amazonas (-4,7%). No indicador acumulado para o período janeiro-fevereiro de 2016, frente a igual período do ano anterior, a redução na produção nacional alcançou doze dos quinze locais pesquisados, com cinco recuando com intensidade superior à média nacional (-11,8%): Amazonas (-28,0%), Pernambuco (-28,0%), Espírito Santo (-22,5%), Minas Gerais (-15,2%) e São Paulo (-14,2%).
Empresários cada vez menos confiantes
O clima de pessimismo em Minas não existe apenas na indústria. A desaceleração da atividade econômica e a percepção de piora no ambiente de negócios tem afetado a confiança dos lojistas, conforme mediu o Indicador de Confiança do Empresário da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), divulgado ontem. Segundo a entidade, foram ouvidos 245 empresários dos setores de comércio e serviço de Belo Horizonte e Região Metropolitana, no período de 11 de fevereiro e 30 de março, alcançando 34,2 pontos, número bem abaixo do nível neutro de 50 pontos do indicador. Em outubro de 2015, o mesmo indicador ficou em 39,3 pontos.
De acordo com a pesquisa, os empresários das micro e pequenas empresas foram os mais impactados pelas mudanças no cenário macroeconômico nos últimos seis meses. O índice de confiança entre os empresários da pequena empresa (de dez a 49 empregados) foi de 33,9 e entre os da micro (até nove empregados) ficou em 34. Entre as empresas de médio e grande porte, o indicador de confiança ficou entre 37,7 e 40,9 pontos. O indicador também mediu a confiança em relação à economia brasileira e 931,% dos empresários disseram que o cenário piorou ao longo do período avaliado.
“O cenário político está fazendo um ‘deserviço’ à nação com uma instabilidade e falta de credibilidade”, comenta o presidente da CDL/BH, Bruno Falci. Ele diz que as incertezas políticas no país geram uma baixa de confiança dos empresários. “Com essa bagunça política, com corrupção e má gestão, o empresário não investe. Com a recessão, há empresas com as portas fechadas, outras em processo de fechamento e aquelas que estão encolhendo. E os trabalhadores perdendo o emprego”, diz. Ele lembra que os menores empresários possuem menor recurso para investimento e ficam, então, mais vulneráveis à crise.
Fonte: EM
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