Com sucessivas altas impulsionadas pelo movimento de estocagem na China, os preços do minério de ferro ultrapassaram ontem US$ 50 por tonelada ontem pela primeira vez em meses. Analistas ainda acreditam que a cotação segue pressionada pela sobreoferta no mercado transoceânico, mas o repique pode durar mais do que se esperava anteriormente.
De acordo com Paul Gait, da casa de análise americana Bernstein Research, bons indicadores macroeconômicos chineses mostram que há fundamento para a valorização da matéria-prima do aço. As importações crescem, o setor de construção dá sinais de crescimento e se aproxima a temporada sazonalmente mais forte para a demanda siderúrgica no país.
O analista tem uma visão mais otimista do que a média do mercado. Suas previsões de preço médio para 2016 são de US$ 54, quando a maior parte dos especialistas crava valores próximos de US$ 40. Para se ter uma ideia, a estimativa do Citi é de US$ 36 e do Goldman Sachs, de US$ 38.
Já a analista Caroline Bain, da consultoria Capital Economics, admite que não esperava a commodity ultrapassando a barreira dos US$ 50 durante o primeiro trimestre, mas afirma que a recuperação pode ter vida curta. Para ela, os fatores que pressionam os preços desde 2014 seguem a regra e o nível atual não é sustentável.
Para ela, os indicadores atuais da China podem explicar o repique, mas a tendência ainda é de perda do ritmo. O cenário chinês é de um crescimento menor, muito mais ligado ao consumo do que à infraestrutura, o que significaria produção siderúrgica mais baixa e queda na procura pelo minério de ferro, principal matéria-prima do aço. Ao mesmo tempo, as grandes mineradoras expandem sua capacidade e aumentam o excesso de oferta em um mercado já inchado.
No ano passado, por exemplo, a brasileira Vale – que é a maior produtora de minério de ferro do mundo – bateu seu recorde histórico em extração do material, com 333 milhões de toneladas.
O enfraquecimento do dólar pode explicar parte da alta. Como o insumo é negociado em moeda americana, o menor valor da divisa significaria menor poder de compra, impulsionando os preços do minério. Neste ano, o dólar caiu 1,3% contra uma cesta que contém libra esterlina, iene, euro, dólar canadense, franco suíço e coroa sueca. Até o menor patamar do ano, tocado há dez dias, a baixa era de 3,2%.
No ano, o minério com teor de 62% de ferro já subiu 23%, para US$ 51,52 a tonelada no porto de Qingdao, na China, diz a “Metal Bulletin” – só ontem, a alta foi de 6,2%. É o maior valor em quatro meses. O desempenho ajudou a impulsionar as ações das mineradoras. Na BM&FBovespa, por exemplo, os papéis preferenciais de classe A da Vale avançaram 8,17%, para R$ 9,40. Os papéis ordinários ganharam 11,07%, para R$ 13,14.
No exterior, outras grandes mineradoras, rivais da Vale, passaram o dia no azul. Na bolsa de Londres, as ações da Anglo American subiram 10,88%, para 4,84 libras (US$ 6,84), as da Rio Tinto tiveram valorização de 8,38%, para 20,50 libras, e as da BHP Billiton 8,48%, para 7,95 libras.
Carolina, da Capital Economics, lembra que antes do feriado do Ano Novo Lunar compradores chineses iniciaram um processo de estocagem, que continuou com a retomada dos negócios. A consultoria diz crer em nível de US$ 42,75 para a commodity na média deste ano. Gait, da Bernstein, argumenta que dados chineses apontam para uma possível estabilização do crescimento econômico, ajudam a reduzir a instabilidade das commodities e podem ter feito os clientes correrem para comprar mais minério.
Na opinião do analista da Bernstein, o mercado transoceânico da matéria-prima perdeu flexibilidade nos últimos anos, com a concentração nas mãos das quatro maiores produtoras – Vale, Rio Tinto, BHP Billiton e Forstescue Metals – e qualquer problema pontual já atinge os preços de maneira mais drástica.
A dinâmica de oferta e demanda também parece ter ficado mais equilibrada, acrescenta Gait. “Vimos muitos fechamentos de capacidade significativos na China e também de outros fornecedores [de minério] de países que não tradicionalmente exportam o produto”, comenta.
Ele também lembra que algumas questões técnicas e ambientais fizeram com que os embarques à China fossem menores do que o esperado. Assim, um grande novo projeto, como o de Roy Hill, na Austrália, que deve adicionar 55 milhões de toneladas à capacidade global com 100% de sua utilização, ainda não afetou totalmente o mercado.
Fonte: Portos e Navios via Valor Econômico
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