Sem margem de manobra, empresários da indústria de Minas Gerais e o governo mineiro já trabalham com projeções de encolhimento da produção de bens e serviços medida pelo Produto Interno Bruto (PIB) da própria indústria e do estado, neste ano, em intensidade maior do que se espera para o país. O tom da queda é dado pelo agravamento das dificuldades dos setores de mineração e metalúrgico, diante da drástica redução da demanda enfrentada por eles, e, consequentemente, da produção, e da baixa dos preços no mercado internacional.
Minas deve sofrer mais que o Brasil, de novo, em 2016, devido ao peso que tem a cadeia de produção do minério ao aço, passando pelos segmentos intermediário do ferro-gusa e da fundição, até a fabricação de estruturas de metal, estimado hoje em 40% do PIB da indústria mineira. O cenário desfavorável não parece ter limites para quem tem acompanhado o derretimento das ações das empresas âncoras dessas atividades, todas com atuação em Minas, a mineradora Vale S.A, as siderúrgicas Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e o grupo Gerdau (veja o quadro).
Nem mesmo quando considerados em bloco os segmentos que têm perspectiva de melhorar seu desempenho – as indústrias química, de celulose, e de alimentos –, contam com gás suficiente para compensar o baque vivido pela mineração e a metalurgia em Minas, afirma Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Industrial e Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). “Eles não têm margem para compensar as perdas de principais setores da indústria mineira, que dependem de como se comporta o mercado internacional”, afirma.
Trabalhando para buscar investimentos disponíveis em ramos da indústria ainda aquecidos como o químico de fertilizantes, e de alimentos e bebidas, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Minas, Altamir Rôso Filho, admite que o estado tem pouco poder de atuar na turbulência dos mercados mineral e siderúrgico. “A única saída que nós temos é desenvolver cada vez mais condições técnicas para produzir a um custo mais baixo, adotando inovação e tecnologia para vencer as dificuldades”, diz.
No dominó da economia, com a engrenagem que a mineração e a metalurgia fazem girar, a indústria mineira não só influencia o PIB do estado, como responde por mais de 50% da arrecadação de impostos, além da geração de empregos. O Instituto Aço Brasil (IABr), que classifica a crise atual como a pior já vivida pela siderurgia brasileira, está revendo o impacto do freio imposto à produção e ao quadro de pessoal das empresas, devido ao agravamento das condições em que as usinas estão trabalhando. O retrato do setor em novembro do ano passado mostrava 60 unidades desativadas ou paralisadas, das quais dois altos-fornos, quatro aciarias, oito laminadores e quatro unidades de mineração. Contadas desde janeiro de 2014, as demissões no setor haviam alcançado 22.260 trabalhadores.
Socorro O presidente-executivo do IABr, Marco Polo de Mello Lopes, defende medidas emergenciais em socorro às empresas, incluindo ações de proteção do mercado interno contra as importações, como fizeram outros países. “No caso da indústria do aço, há uma peculiaridade danosa de 700 milhões de toneladas excedentes no mundo, das quais 400 milhões de toneladas se concentram na China, uma economia que não tem nenhum compromisso com regras de mercado. Isso levou a um surto de protecionismo no mundo”, sustenta.
As siderúrgicas brasileiras partiram para um esforço exportador, com a valorização do dólar, mas a despeito do crescimento de 40% das vendas externas de aço do país no ano passado, a receita em dólares caiu 3,3%, anulada pela queda dos preços puxadas por países produtores como a China e a Rússia. De acordo com as previsões mais recentes divulgadas pelo IABr para 2016, no mercado brasileiro as vendas deverão diminuir 3,9% frente a 2015, quando já haviam recuado 16,1%. O consumo aparente de aço (somatório de vendas no Brasil e importações), por sua vez, tende a cair 5,1% neste ano, em seguida à retração de 16,7% em 2015, frente ao ano anterior.
De janeiro a setembro do ano passado, o PIB de Minas sofreu mais que o do Brasil, com base nos últimos dados disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação João Pinheiro, de Belo Horizonte. A economia encolheu 4,8% em Minas e 4,5% no Brasil no terceiro trimestre de 2015, frente a idêntico período de 2014. A comparação foi, da mesma forma, desfavorável para o estado, no primeiro e no segundo trimestres, com quedas de 5% e 3,3% do PIB, ante resultados negativos de 2% e 3%, respectivamente, no país.
NA BOLSA A China é também o bordão de impacto nos rumos da indústria da mineração, como maior consumidora da produção mineira e brasileira, portanto, quem define os preços em ciclo de baixa. Para o analista e consultor do setor Pedro Galdi, dono da Galdi Investimentos, nada indica mudanças na encruzilhada em que a mineração e a siderurgia se meteram. “Não há melhora à vista no cenário da economia nem aqui, nem lá fora. Minas Gerais sofre mais porque há grande ativos dos dois setores em atuação no estado como a Vale e a Samarco (paralisada depois do rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro do Fundão em Mariana), e a Usiminas, maior empresa brasileira de siderurgia”, afirma.
Com ações em queda expressiva nos últimos 12 meses, apenas neste ano até ontem as ações preferenciais Vale5, da Vale S.A, caíram cerca de 26%, enquanto os papeis ordinários (ON) perderam 10,24% de seu valor na Bovespa. No mesmo período, ações preferenciais da Usiminas (Usim5) e da Gerdau (GGBR4) tiveram desvalorização, respectivamente, de 45% e 19%. “Em algum momento haverá um repique, com alguma notícia que atraia o investidor, mas o ano será difícil em termos das ações”, observa Galdi.
Fonte: EM
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