sexta-feira, 11 de março de 2016

A atual situação do minério de ferro



Desde o início do ano, os preços do minério de ferro têm trilhado um caminho de recuperação, subindo cerca de 20% nos primeiros dois meses de 2016. No entanto, uma alta diária inédita de mais de 19% na segunda-feira (7) acabou tornando mais difícil a vida de quem tenta explicar o movimento do metal. “Nenhum dado macroeconômico justifica uma alta diária de US$10/tonelada”, diz Paul Butterworth, analista da consultoria CRU Group.
O salto repentino de um dia para o outro, de acordo com Ralph Leszczynski, chefe de pesquisa da corretora italiana Banchero Costa em Singapura, foi impulsionado principalmente por questões financeiras, como a cobertura de posições vendidas, em vez de fundamentos. “As condições de abastecimento e demanda realmente não mudaram de uma ou duas semanas atrás”, disse.
Há um otimismo no mercado após o ano novo chinês”, admite Philip Kirchlechner, diretor da consultoria Iron Ore Research. No entanto, parte do bom humor é sazonal, apoiado pelas notícias que vieram após a reunião do Banco do Povo da China e do setor de construção, destaca. Após conversar com especialistas do setor, O Financista listou os cincos principais pontos relacionados ao cenário atual do minério:

1 – Boas notícias da China

Para Paul Butterworth, o que impulsionou o mercado na segunda-feira de uma forma tão dramática foi a especulação do fechamento de mais fábricas de aço na China. “Embora o governo chinês tenha declarado há muito tempo seu compromisso em reduzir o excesso de capacidade, os detalhes adicionais no plano de cinco anos – lançado neste último fim de semana – podem ter dado mais confiança de que isso poderá ser alcançado.”
“Os recentes acontecimentos na China (o estímulo fiscal e as políticas para apoiar o setor de construição) tiveram um impacto positivo em um momento em que há poucos ‘dados concretos’ em que confiar”, disse Paul Gray, diretor de pesquisa da consultoria Wood Mackenzie.

2 – Ajuda das flores

Outro fato positivo para o mercado foram os rumores de que as siderúrgicas na cidade de Tangshan (que têm a capacidade de produzir 150 milhões de toneladas de ferro) podem cortar a produção devido a uma conferência internacional de horticultura na primavera.
A exposição – que ocorre entre 29 de abril e 16 de outubro – deve fazer com que as usinas reduzam sua produção para combater a poluição do ar. “Essa notícia foi vista como favorável para o minério de ferro no curto prazo”, disse John Kovacs, economista-sênior de commodities da consultoria britânica Capital Economics.

3 – Despertar do setor imobiliário

Para a corretora Banchero Costa, os fundamentos do minério de ferro, de fato, começaram a melhorar lentamente desde o começo do ano, com um despertar da atividade do setor imobiliário chinês. Os preços das casas em grandes cidades (como Xangai e Shenzhen) estão subindo novamente e as pessoas correm para comprar na expectativa de um aumento ainda maior.
“Essa recuperação no setor imobiliário acontece devido a uma onda de novas medidas de estímulo introduzidas nos últimos meses, como a redução do percentual de capital necessário para hipotecas e a redução dos impostos sobre as transações, mas também é consequência direta dos problemas da bolsa de valores chinesa. Com os poupadores locais e os investidores com medo da volatilidade do mercado de ações, eles estão retornando para o que ainda é percebido como o mais seguro para investimento: o setor imobiliário.”

4 – O impulso vai durar?

Para Ralph Leszczynski, da Banchero Costa, a duração do boom do minério de ferro dependerá de quão consistente será a recuperação do setor de construção na China, e se ela também se espalhará em direção às pequenas cidades. “Também precisamos observar se esse rali nos preços convencerá os mineradores a voltar atrás nos planos de cortar a capacidade, já que isso colocaria novamente pressão sobre os preços daqui para frente.”
Para a consultoria Wood Mackenzie, o rali não deve durar: “Acreditamos que o consumo e a produção de aço na China cairá ao longo de 2016, fornecendo pouco suporte para os preços de minério de ferro, em um momento em que os principais produtores estão aumentando os estoques.”

5 – Curto e médio prazo

Para a Wood Mackenzie, os preços do minério de ferro se enfraquecerão a curto e médio prazo e sua previsão de preço para 2016 é de US$ 47/tonelada. A projeção média para os próximos cinco anos é de aproximadamente US$ 50/tonelada.
De acordo com Paul Butterworth, há dois possíveis cenários. O primeiro é que a demanda por aço venha em linha com as expectativas otimistas em março. “Isso pode dar suporte para o minério de ferro, mas, mesmo sob os melhores cenários para a demanda, é difícil ver o minério de ferro acima dos US$ 60/tonelada.”
Caso a demanda pela commodity esteja abaixo das expectativas de março, mais produção de aço bruto acabará “matando” os preços do aço e, assim, preparando o caminho para uma grande correção no segundo semestre – assim como aconteceu em 2015. “Vale a pena notar que, até agora, o rali do minério de ferro ultrapassou o do aço, o que significa que a rentabilidade das siderúrgicas deve ser pressionada nos próximos meses”, analisa Butterworth.
A Capital Economics acredita que os preços cairão no curto prazo, já que “os fundamentos do mercado não mudaram substancialmente” nos últimos dias. “Esperamos que os preços caiam em direção ao US$ 40/tonelada ao longo das próximas semanas. Depois disso, os preços devem subir um pouco, para encerrar o ano em US$ 45/tonelada.”
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Fonte: O Financista

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